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Foto do escritorProvíncia São Paulo Apóstolo

"Amou-nos": a nova encíclica do Papa Francisco

No centro do Evangelho está um Deus que é o amor encarnado. Temos a tendência de pensar que o Evangelho seria apenas um texto bíblico ou uma parte importante do Novo Testamento que nos fala da vida de Nosso Senhor. Mas, na verdade, trata-se da própria pessoa de Jesus, o Verbo ou a Palavra viva e eterna de Deus! Não somos a religião do livro, mas da Palavra de Deus, e Jesus é o amor em pessoa. Em seu peito bate um coração que abriga as alegrias e tristezas de toda a humanidade.


É desse coração ferido, mas fiel e que ama até o fim, que o Papa Francisco nos fala em sua quarta encíclica. Uma encíclica é uma carta circular que o Papa envia a todos os católicos e pessoas de boa vontade no mundo inteiro. É isso mesmo. O Papa está enviando uma carta para você, para mim, para todos nós. É preciso que a leiamos com atenção, carinho e respeito filial pelo Santo Padre, pois sua missão é nos confirmar na fé em Jesus de Nazaré no seio da Igreja una, santa, católica e apostólica.


Após uma breve introdução, o documento se divide em cinco capítulos, cujo tema central é o culto ao Sagrado Coração de Jesus.


No primeiro capítulo, o Papa nos diz que precisamos voltar ao coração. Vivemos em um mundo líquido e apressado. Há muita superficialidade no que se diz e no que se faz. Corremos o risco de nos tornarmos meros consumidores insaciáveis, pois o mercado, apesar de criar desejos e falsas necessidades, não consegue suprir os anseios mais profundos da vida, que é sempre um dom precioso de Deus e que dinheiro algum pode comprar. Falar do coração é, portanto, falar daquelas questões que nos movem: Quem sou eu? Qual a minha missão neste mundo? Qual o sentido da minha vida?


Assim como eu sou o meu coração, é a partir do coração de Jesus que compreendemos mais profundamente quem Ele é e podemos responder à pergunta que Ele nos faz: E vós, quem dizeis que eu sou? Santos como Inácio e Newman, entre muitos outros, compreenderam que só há seguimento verdadeiro quando se fala com o Senhor de coração para coração.


No segundo capítulo, aprendemos, dentre tantas outras coisas, que Jesus, mais do que falar de amor, pratica o amor, para que entendamos essa realidade mais vivencialmente do que verbalmente. De fato, Jesus é proximidade, compaixão e ternura. Ele toca, olha, abraça, chora, sofre e se doa com amor, por amor e no amor.


No terceiro capítulo, o Papa faz um resgate da história da devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Ele recorda que Pio XII, em 1956, lançou uma encíclica sobre o tema. É importante frisar que o culto ao Sagrado Coração não é o culto a um órgão separado do corpo do Senhor, mas a adoração de Jesus encarnado. Esse Deus que se fez homem nos ama com caridade divina e afeto humano. Em Jesus, Deus de Deus e luz da luz, estamos diante de um mistério paradoxal: no coração finito de Jesus (verdadeiro homem) está presente o amor infinito do Cristo (verdadeiro Deus).


Francisco nos ensina que o culto ao coração de Jesus não se deve a revelações privadas. Ele já está presente na Bíblia, na Tradição e no Magistério da Igreja. Tais revelações têm seu valor como estímulo para que se faça o bem e se viva o Evangelho, mas, diferente da Palavra de Deus, não são dogmas de fé e podem ou não ser acreditadas. O mais importante é que, diante do coração de Jesus, como já afirmava Pio XII, estamos diante de um compêndio do Evangelho.


Segundo o Santo Padre, a devoção ao Sagrado Coração nos ajuda a superar uma espiritualidade desencarnada. De fato, não são poucos os devocionismos que pretendem substituir a fé em Cristo, que sempre exige seguimento, por meros ritualismos, que beiram mais a superstição do que a uma saudável devoção. Uma espiritualidade sem coração leva a reformas meramente exteriores, nas quais se dá uma ênfase exagerada na organização e nos projetos, que, sem qualquer espírito sinodal, são impostos e jamais dialogados.


Assim, vemos que o sínodo sobre a sinodalidade e as reformas em andamento na Igreja não se apresentam como algo superficial e provisório, mas como um esforço para partir do coração, de modo que a Igreja seja realmente portadora da Lumen Gentium (luz das nações, que é o Cristo).


No quarto capítulo, o Papa relembra as Escrituras e o Magistério da Igreja para que possamos nos alimentar espiritualmente e nos comprometer eclesialmente com a missão. Ele recorda textos bíblicos e dos Padres da Igreja, com seus comentários sobre o lado aberto de Jesus. Alguns santos devotos do Sagrado Coração são recordados nesse momento: São Francisco de Sales, Santa Margarida Maria Alacoque, Santa Teresa de Lisieux, Santo Inácio de Loyola e Santa Faustina Kowalska.


No quinto capítulo, o Papa Francisco nos recorda que a devoção ao Sagrado Coração tem uma dimensão comunitária, social e missionária. De fato, o coração que ama o Pai ama também os irmãos. Aqui, vemos a lembrança de outro santo muito querido, que moldou sua vida segundo o coração de Cristo e, por isso, se tornou irmão universal: São Charles de Foucauld. Destaco também o ensinamento do Papa sobre a reparação ao Coração de Jesus, à luz dos ensinamentos de João Paulo II: não se trata apenas de palavras, mas também do trabalho cotidiano em prol da construção de uma civilização do amor, capaz de superar o ódio e a violência presentes no mundo.


Finalmente, o Papa ensina que consagrar-se ao Coração de Jesus é engajar-se na ação missionária da Igreja, pois esse coração, que a todos ama, quer ser conhecido e amado. É por meio da saudável devoção ao Coração de Jesus que a Igreja se torna Corpo de Cristo, a sociedade se edifica na justiça e a paz e a fraternidade podem reinar entre as nações. A missão não consiste apenas no anúncio doutrinal, mas também no encontro feliz com o amor de Cristo, que nos faz missionários apaixonados de seu Sagrado Coração.


Lembre-se de que um resumo é apenas uma visão panorâmica, que tem sua beleza, mas é incapaz de captar as nuances e os detalhes. Conhecer a floresta por cima não é a mesma coisa que conhecê-la por dentro, através de uma boa caminhada, feita com paciência e atenção, para contemplar a diversidade de árvores, flores, folhas e frutos... Com este pequeno texto, quero apenas convidá-lo a ir além. Agora é sua vez de ler o texto integral, elaborar sua própria síntese e fazer as aplicações convenientes à sua vida e à sua missão.


Pe. Renato Vieira, SAC Sacerdote Palotino



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